quarta-feira, 17 de julho de 2013

DESMANIFESTANDO A COISA TODA.


Escrevo ao som de helicópteros, sirenes e buzinas. Daqui a pouco, vêm as bombas, o gás lacrimogênio, a garotada correndo. Aí seguem-se os protestos sobre o comportamento da polícia, sobre a cobertura insuficiente da mídia, protestos sobre protestos e mais protestos. Normal. O roteiro é o de sempre.
Quando começou, teve impacto. Depois, como crianças que querem ser aplaudidas por executarem repetidas vezes sua gloriosa cambalhota, tudo que os insistentes protestantes vêm conseguindo é banalizar. "Muito cool participar dessas baladas manifestativas, dá pra pegar umas minas, zoar geral, fazer bonito nas redes sociais e, forçando um pouco a barra, até aparecer na tv. Caraca, capricha no cartaz, brou! Se puder levar uma máscara antigás pendurada no pescoço então, tua chance de brilhar multiplica um monte". Menos, galera, menos!
Diante do muitos excessos cometidos no Brasil de hoje, permito-me sussurrar um princípio básico de comunicação, muito bem colocado pelo expert em storytelling, Robert McKee: "Se toda cena grita para ser ouvida, ficamos surdos". É isso.

2 comentários:

  1. É isso!
    Os excessos preocupam pelo que estimularão como resposta igual, mas com a intensidade própria ao mamute do Estado. Além de gerarem, na maioria da sociedade, a dúvida sobre a importância de participar. Participar de quê?
    A banalização tende a nivelar tudo por baixo e desarticular aquelas revindicações que são justas e necessárias.
    É um momento difícil, de algum modo compreensível enquanto expressão de um "analfabetismo cívico" estimulado pela cultura da alienação consumista onde o máximo do protesto é o "bizarro" e o idolatrado "irreverente de boutique".
    Percebo uma crise de valores, como uma profunda descrença na "organização" da sociedade, em especial no papel do Estado, nas autoridades, nos seus representantes e nos mecanismos de representação.
    Penso que abusos associados a completa despreocupação com os rumos da desorganização social e da precarização da vida estão envolvidos com o que vivemos agora.
    Abusos, excessos, falta de educação cívica como sintomas de adoecimento grave da sociedade. O perigo são os remédios.

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