quinta-feira, 25 de julho de 2013

FRANCISCANDO.


O sorriso diz tudo. Mais do que os discursos. Fala sobre o que acredita, por isso convence, mesmo quando sua opinião não coincide com a nossa.
As atitudes, aliadas ao sorriso, são de uma eloquência arrebatadora. Não teme o contato com o povo, não teme o improviso, nem a quebra de protocolos. Escolhe sempre o mais simples.
Usa expressões como "botar mais água no feijão", faz alusões a cafezinho, cachaça, elementos do dia-a-dia. Critica a cultura do descartável, acolhe os que lutam contra a dependência das drogas, combate a corrupção (começando pelo Vaticano), incomoda gente perigosa. Desfila em carro aberto, enlouquece os seguranças.
Não tenta ser perfeito, nem infalível, nem super-poderoso. Insiste pra que rezemos por ele, pedindo humildemente pra ser ajudado.
Na comunidade de Varginha, parece mais à vontade do que nos palácios. Quando fala com os jovens e sobre seu papel construtor do futuro, parece rejuvenescer, reenergizar-se.
A escolha do nome Francisco podia ser um detalhe. Graças a Deus, não é.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O DOCE SABOR DO FRACASSO.


Quando algo parece que vai funcionar, alguém vem e desarruma. Brasileiro adora perder uma boa oportunidade, prefere se sentir injustiçado a carregar nas costas a pesada responsabilidade de dar certo. "Certo", palavra horrorosa pra quem se acostumou a ser torto. Certo = direito, sacou? Coisa de direita reacionária entreguista etc e tal. Outro assunto em que somos fissurados são os rótulos, não importa o quanto estejam fora do prazo de validade.
Escritor que vende muito deve ser apedrejado pela crítica (e também por seus pares). Filme de grande bilheteria?, só pode ser ruim. Empresário bem-sucedido?, que ofensa às tradições nacionais! Televisão considerada uma das melhores do planeta e com muita audiência? pau nela! Se deu certo, só pode estar errado. As grandes empresas, a grande mídia, os grandes conglomerados... tudo que é grande conspira contra quem idolatra a pequenez.
Só no Brasil, um partido com mais de 10 anos no poder segue chorando pitangas contra... o quê mesmo? E afirma orgulhosamente que a recente onda de protestos se deve ao sucesso de sua gestão.
Só no Brasil, esperamos que os estádios sejam construídos, pra na hora H, sacanear os eventos que tanto lutamos pra hospedar, jogando fora a chance de recuperar o que foi investido e faturar das mais variadas formas. Só no Brasil, crucificamos quem tenta alavancar a economia e promovemos constantes paralisações com o pretexto de querer avançar. Só no Brasil, até a visita de um Papa super-simpático, em evento mundial de jovens religiosos, se transforma em calvário.
O mundo nos admira por nossa hospitalidade e descontração? Rá! Positivo demais pra ser mantido. O mundo quer investir aqui fortunas que vão gerar empregos e melhor qualidade de vida? Rá-rá! Vamos dar aos investidores todos os motivos pra se escafederem de nossa terra. O mundo está olhando pra nós? Beleza! Vamos mostrar a eles com quem estão se metendo e destruir de vez tudo o que levamos tanto tempo pra construir. Rá-rá-rá! Olha o que eu fiz com o nosso brinquedinho.
Destino turístico paradisíaco, coisa nenhuma. Lider dos BRICS, nananinanão! Legal mesmo é ser liderado pela Venezuela, enrolado pela Argentina, humilhado pela Bolívia. Queremos ser vistos como um lugar infernal onde ninguém consegue ter paz, planejar nada, se sentir seguro pra fazer nada. Talvez seja isso, "fazer nada", nosso ideal macunaímico: um eterno feriadão, onde tenhamos todo o tempo do mundo pra lamentar o presente, inventar teorias conspiratórias, colocar a culpa nos outros e detonar o futuro.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

DESMANIFESTANDO A COISA TODA.


Escrevo ao som de helicópteros, sirenes e buzinas. Daqui a pouco, vêm as bombas, o gás lacrimogênio, a garotada correndo. Aí seguem-se os protestos sobre o comportamento da polícia, sobre a cobertura insuficiente da mídia, protestos sobre protestos e mais protestos. Normal. O roteiro é o de sempre.
Quando começou, teve impacto. Depois, como crianças que querem ser aplaudidas por executarem repetidas vezes sua gloriosa cambalhota, tudo que os insistentes protestantes vêm conseguindo é banalizar. "Muito cool participar dessas baladas manifestativas, dá pra pegar umas minas, zoar geral, fazer bonito nas redes sociais e, forçando um pouco a barra, até aparecer na tv. Caraca, capricha no cartaz, brou! Se puder levar uma máscara antigás pendurada no pescoço então, tua chance de brilhar multiplica um monte". Menos, galera, menos!
Diante do muitos excessos cometidos no Brasil de hoje, permito-me sussurrar um princípio básico de comunicação, muito bem colocado pelo expert em storytelling, Robert McKee: "Se toda cena grita para ser ouvida, ficamos surdos". É isso.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A QUEM INTERESSA BATER NA MÍDIA?

Pra começar, blog é mídia, facebook, twitter, cartaz de passeata, estampa de camiseta, e por aí vai, tudo é mídia. Imagino, então, que os que atacam indiscriminadamente a mídia se refiram à chamada "mídia de massa", ou simplesmente "grande". São as pessoas que, em considerável número, compartilham o que lhes chega às mãos sem checar a veracidade de fontes e fotos, os que não têm tempo de se aprofundar e/ou, de tão revoltados com tudo, primeiro atiram, e depois perguntam. Talvez nem chegando a perguntar, na pressa em gerar um novo post e conquistar preciosos likes.


A mídia (grande ou pequena) tem falhas, sim, como tudo o que é humano. Às vezes se precipita, às vezes edita mal, às vezes coloca um viés pessoal na notícia. Quando escrevo este texto, por exemplo, manifesto minha visão a partir de convicções e experiências pessoais. Por que deveria esperar que jornalistas fôssem imunes à subjetividade? Ou por que deveria acreditar que o que se espalha na internet é verdadeiro? Há sempre uma dose de opinião em tudo o que se expressa. Nada é 100% objetivo desde que o mundo existe. Mas prefiro mil vezes aplicar minha análise crítica ao que dizem jornalistas bem preparados e com acesso a fontes bem informadas, do que ao caldeirão raso e inconsequente que ferve na web.


A internet, sob a falsa capa de ingenuidade em que se abriga, está corrompida por opiniões compradas, depoimentos encomendados e uma infinidade de aberrações que circulam, como gangues de delinquentes, à procura de inocentes úteis. Ali se pratica um "jornalismo"sem princípios, onde cada um diz o que quer sobre o que for, sem qualquer responsabilidade.
Quando vejo a mídia, a imprensa, o jornalismo em geral sendo apedrejados, imagino quem os considera inimigos. Geralmente são os ditadores, os corruptos, os que não querem ter suas fraudes, fragilidades e incoerências expostas ao público. E penso que, sem a chamada "GRANDE MÍDIA", estaríamos totalmente vulneráveis às manobras do poder, sem saber de maracutaias, sem ter noção do quanto somos roubados, sem sequer a percepção do quanto estaríamos privados de nossa liberdade e cidadania.
O sonho dos desonestos é controlar a mídia, pra seguirem seu caminho de bandidagem sem obstáculos. Portanto, antes de jogar pedra na mídia, é bom pensar em quem está torcendo pra ver o circo pegar fogo. Assim como é bom lembrar que, graças à tecnologia, todos nos tornamos mídia, e em algum lugar, alguém mal-intencionado, também tenta nos controlar.
Pra encerrar, o quadrinho acima, com a foto de Richard Nixon, foi buscado no Google. Não tenho certeza de que a frase "o inimigo é a imprensa" foi dita por ele. Mas não tenho nenhuma dúvida de que, no auge de Watergate, isso lhe passou pela cabeça.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

PENSO, LOGO, EGITO.

Nada de medo, mas consciência. A situação política brasileira não é a mesma do Egito, como insinuam os oportunistas de um lado. Mas também não pode se enredar em manobras eleitoreiras, como pretendem os oportunistas de outros lados. Transformar a massa indignada em massa de manobra seria o pior desfecho possível para nosso bendito despertar cívico.
Direita e esquerda se tornaram palavras vazias, que variam de significado segundo a conveniência do usuário, por isso vou deixá-las de lado. Golpe, este sim, é o grito de alerta (compartilhado pelos que se dizem esquerdistas e direitistas). São muitos. Cada um tem seu golpe na cabeça: o velho golpe de infiltrar baderneiros pra deixar os manifestantes mal na foto, o golpe bolivariano de propor um plebiscito pra alegar que o executivo fez sua parte e poder se unir aos que apedrejam o legislativo, o golpe de estimular demandas pontuais multifacetadas que possam gerar inquietações, inseguranças e greves sucessivas... o golpe de desqualificar o grito das ruas, provocar o caos, inviabilizar o país. Vários golpes se engatilham, todos com as piores intenções, e cabe a nós identificá-los, desmoralizá-los e rejeitá-los, sob pena de jogar fora um momento histórico que dificilmente se repetirá.
Não, decididamente não somos o Egito. Mas o que não falta no Brasil é múmia. Maldições em cadeia (boa palavra essa, hein!), anos a fio a nos assombrar: Renan Calheiros, Henrique Alves, José Sarney, Paulo Maluf, José Dirceu, Fernando Collor... a lista é grande. Obras faraônicas, claro, pipocam por todos os lados, de estádios padrão Fifa a hidrelétricas padrão "ame-o ou deixe-o / anos 70", com custos invariavelmente acima do orçado. Esfinges? Quando olho pra esses seres meio gente-meio bicho, não sei porque me lembro de Dilma e Lula. Deve ser por oscilarem muito de um lado pro outro, tornando-se indefiníveis. Ou talvez por serem, no fundo, a mesma pessoa, obcecada pela eternização no poder. Por fim, o famoso "decifra-me ou te devoro" cai muito bem aqui, entre o povo e os soberanos da vez. Quem não decifrar a situação com inteligência, tende a ser devorado.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

COPA É BOM, OLIMPÍADA É BOM.


Antes de colocar a culpa nos eventos, melhor colocar a cabeça no lugar. Ter Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil é maravilhoso. Atrai turistas, investimentos, obras, empregos, novas perspectivas para todos. Também atrai nosso olhar para as mazelas nacionais, atrai nosso espírito cívico, nossa revolta com a incompetência e a desonestidade dos que nos governam.
Copa do Mundo e Olimpíadas mexem com tudo. Se não fôssem elas, não enxergaríamos com tanta nitidez os contrastes entre estádios e serviços públicos, não teríamos a certeza de que dinheiro pra fazer grandes obras (quando há vontade política) existe, não teríamos o impulso necessário pra vomitar nossa indignação contra os que nos pilham com o inchaço da máquina pública, nos embromam com maquiagens contábeis e discursos requentados, nos chantageiam com migalhas oferecidas em troca de votos.
Quando alguém maldiz Copa e Olimpíadas, fico zangado. Benditos sejam esses eventos. Que aconteçam seguros, bonitos e festivos, como o mundo espera de tudo o que se faz no Brasil. É tolice não apoiá-los, boicotá-los, desperdiçar o sacrifício do plantio detonando tudo na hora da colheita. Assim como é estúpido não aproveitar o ensejo pra fazer uma faxina profunda na classe política, e obrigar os que há tantos anos nos ignoram a sair da zona de conforto, arregaçar as mangas, e nos dar a qualidade de vida que merecemos, minimanente compatível com a absurda carga de impostos que suportamos.
A bola está na marca do pênalti. Ano que vem tem Copa e eleição. Momento imperdível pra marcarmos um golaço na recepção dos que vêm nos visitar, dar um chute na bunda dos politiqueiros-mensaleiros-bandalheiros de plantão, e correr pro abraço com o alto astral que nos diferencia, cantando o Hino Nacional como nunca antes na história deste país.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

SER PAI ESTÁ NOS DETALHES.


Quando Fred marcou o primeiro gol brasileiro contra a Espanha e as celebrações se concentravam na linha de frente, David Luiz abraçava Júlio César, como se o gol tivesse nascido de uma tabelinha entre eles. Sentimento de família, coisa que só se consegue quando um pai-Felipão está no comando.
Quando a seleção canarinho festeja a conquista do campeonato, junto com os craques, algumas crianças vibram. Uma delas, vestindo camisa 9, ergue os braços como se tivesse jogado. Está bem na frente de seu pai, Júlio César.
Nos dois romances que escrevi, é evidente a presença do pai, pro bem e pro mal. Conselheiro e devotado no caso de José Espínola, sombrio e culpado no caso de Douglas. Não por acaso.
Paternidade é um assunto prioritário em minha vida, inspirado pelos filhos e pelo pai maravilhoso que Deus me deu.
Certamente é isso que me faz focar em Júlio César, em vez de Neymar e Fred. Essa identificação com quem segura os ataques do adversário, protege, dá tranquilidade pra que o grupo avance.
Quando eu era pequeno, meu pai jogava futebol comigo. Mais tarde, eu joguei com minha filha e meu filho. Hoje, ir ao estádio com aquele garoto, que virou um rapagão, continua a me emocionar. Cantar o hino nacional até o fim, enchendo o peito de orgulho junto com ele, então, nem se fala.
Em meio a tantos temas graves debatidos nas ruas, parece pieguice boba. Pra mim, é um grande detalhe.