segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ALGUMA COISA SE QUEBROU EM 2013.


Quebrou-se o silêncio do povo brasileiro em relação ao descaso dos poderes públicos. Quebraram-se vitrines, prédios públicos, ônibus, e com eles a nobreza inicial das manifestações. Quebrou-se um pacto de civilidade que nos fez retroceder na história. Quebrou-se o respeito entre os poderes públicos, com o Executivo tentando transferir todas as mazelas do mundo para o Legislativo e principalmente o Judiciário. Além, é claro, da imprensa.
Quebrou o pau por todo lado. Entre torcedores (criminosos) de futebol, como nunca havíamos visto. Entre atletas de um negócio chamado UFC, que nos remete de volta ao Coliseu.
2013 foi um ano de quebradeira. Nem o Eike Batista escapou.
De positivo, só a quebra do velho tabu de que político no Brasil nunca vai pra cadeia.
Fica um triste saldo de violência, a ser compensado ano que vem.
Que em 2014 a gente junte os cacos e saiba recomeçar, com o pé direito, sem cotoveladas, pedradas ou caneladas.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

SEXTA-FEIRA, 12+1. BOA SORTE PRA QUEM LER!



Não sou supersticioso. Mas em respeito aos que são, evitarei mencionar palavras como o antônimo de sorte, por exemplo.
Escrevo este post sob o impacto do lustre de meu escritório. Exatamente 1h da manhã de hoje, o danado resolveu me tirar o sono, despencando do teto como um kamikaze doido e se espatifando retumbantemente no chão. Caco pra todo lado. Me dei bem duas vezes: primeiro, não caiu na cabeça de ninguém; segundo, não era um espelho, que, segundo dizem... deixa pra lá.
Depois da noite mal dormida, primeiro susto da manhã, minha caixa de emails exibe um emocionante comunicado do Serasa. Há um link, onde devo clicar pra resolver o que a mensagem classifica como "pendências". Obviamente não clico. Mas, pelo sim pelo não, ligo pro Serasa, apenas para ter certeza do que já desconfiava: email fraudulento. Ufa!, escapei de um virus, de um hacker, ou algo parecido.
Juntando os pontos até aqui, ô sorte!
Tudo na vida é questão de enquadramento. Se temos uma moldura negativa, as coisas sempre se encaixarão nela. Por outro lado, se nos livramos das molduras, descobrimos que há novos ângulos a explorar.
Resumindo, relaxe. O dia de hoje é uma sexta-feira como outra qualquer. Mas não é por isso que você vai se arriscar a passar por baixo de uma escada, certo? Nem vai insistir em cruzar com gatos pretos. Nem... ok, acho que está claro.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

BATE-PAPO NA PAPUDA



- Será que alguém vai notar?
- É só um hotel em Brasília, e tem nome de santo.
- Em inglês, e parece se referir ao partido: Peter, PTr...
- Tá delirando. Só um blogueiro maluco pensaria num troço desses.
- Mas os caras tão cheios de história mal contada. O prédio é maldito, tem a mão do Sérgio     Naya. Tudo em que ele se mete, desaba.
- Bobagem.
- O hotel deles é controlado por uma empresa de fachada no Panamá.
- E daí? Quem de nós não tem uma empresinha off-shore pra esconder uma grana?
- É que a empresa deles tem como principal executivo um auxiliar de escritório. Tremendo       laranjão.
- Nossa especialidade.
- Pior que laranja, tá no bagaço. O mesmo cara aparece como sócio de mil outras empresas.   Não é um pouco demais?
- Brasileiro não olha pra essas coisas. Tá preocupado em ver quem cai pra segundona,           sorteio da Copa, qual a próxima do Félix na novela...
- Sei não. Tem certeza de que o salário deve ser mesmo tão alto?
- Claro. Tá esquecendo a caixinha?
- Caixinha?
- Fica tranquilo que teus 10% já tão reservados.

- Bom, se é assim...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Os selfies que se phubbers.


A epidemia de likes e compartilhamentos que domina o planeta, além de múltiplas ansiedades, exibicionismo agudo, egos injustificadamente inflados, relacionamentos tortos e superficialidade crônica, tem nos brindado com novas palavras. Todas emanadas do inglês, of course. Nada contra, mas algo me diz que caminhamos pra um apartheid técnico-terminológico, que tende a criar uma interminável teia de guetos de solitários.
Quando olhamos fixamente para nossos smartphones, o que estamos realmente olhando? Espelhos? Nosso umbigo? E - mais grave - o que estamos perdendo?
As pessoas e coisas que circulam fora das telinhas hipnotizantes, até prova em contrário, são bem mais atraentes que sequências de postagens sem rumo. A não ser que estejamos enfeitiçados, não pelo que o aparelhinho nos conta, mas por nossos próprios reflexos, Narcisos patológicos do século XXI. Preocupados em clicar auto-retratos que nos mostram bem-sucedidamente felizes, pouco a pouco nos perdemos do conceito de felicidade. Aflitos por não perder nenhum pedacinho do que se comenta nas redes, construímos barreiras que afastam de nós a capacidade de reflexão, o pensamento crítico, a sensibilidade, a consideração e... os outros. Ah, sim, os outros. Pra que servem mesmo?
Vale aguçar o ouvido pra perceber que selfie soa parecido com selfish. E phubber também se parece com aquela palavra em português que, escrita com "ph", ganha alguns bônus de gravidade.

(Foto de autoria desconhecida, buscada no Google)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

PARA PRESIDIÁRIO, EM QUEM VOCÊ VOTARIA?


Longe de mim estar sugerindo nomes ou tentando influenciar quem quer que seja. Achei a foto deste post no Google e a atitude do fotografado me levou a imaginar que ele nos fizesse a pergunta sobre um cargo que poderia muito bem pintar nas urnas eletrônicas.
Iniciado o processo de encarceramento dos corruptos brasileiros com a galera do mensalão, nada mais lógico do que listarmos nossos candidatos preferidos para completar a gloriosa equipe do sol quadrado. Repara só como abundam as fotos em que eles se divertem com essa possibilidade.
2014 vem chegando e o cenário eleitoral oscila entre o ruim e o péssimo. Tá muito mais fácil votar para presidiário do que para presidente, né mesmo? Então, por que não? Podemos criar na internet uma emocionante campanha repleta de currículos recheados de falcatruas, negociatas, contas misteriosas no exterior, patrimônios incompatíveis com as rendas etc. Facilitaríamos assim a missão de investigadores, promotores e juízes, declarando nosso apoio pra que sigam em frente na longa e penosa tarefa de engaiolar os que começam sorrindo com dedo em riste e terminam bicudos com magoados punhos erguidos. E eles facilitariam a nossa vida, riscando do mapa as candidaturas que estão ali só pra encher nosso saco e os próprios bolsos.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Como dizia Pessoa.


A foto de um texto faz sentido quando o texto é de quem faz arte com as palavras. Faz sentido mesmo que seja uma foto clicada às pressas numa exposição, mesmo que peque em luz, enquadramento, foco. A foto de um texto vale mais que mil palavras, mesmo que o texto fotografado não chegue às cinquenta, desde que a combinação dessas poucas palavras nos leve a mais de mil imagens.
A foto de um texto no Dia Nacional do Livro faz sentido, mesmo que o autor do texto não seja brasileiro, mas, sendo português, universal e brilhante, tenha lugar de honra nos corações brazucas. E o sentido se torna inquestionável quando o texto fala de literatura, de seu significado em nossas vidas, e do quanto o passar do tempo se torna irrelevante quando confrontado com a verdade em seu estado de poesia bruta.

sábado, 26 de outubro de 2013

Olho nos olhos.



Criar é ter um novo olhar. A campanha da F/Nazca para a Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos confirma essa definição. Que insight! (sem trocadilho). Há ideias que geram prazer, outras que geram inveja. Essa ideia provocou tudo ao mesmo tempo. Como gostei de ter visto! Como gostaria de ter tido!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

UMA PITADINHA DE BOM-SENSO NÃO É PEDIR MUITO, CERTO?


Chico Anysio era um mestre. Sua Escolinha do Professor Raimundo, mais do que fazer rir, dava o que pensar. Tudo o que acontecia em seu famoso quadro humorístico convergia para um bordão e um gesto que sintetizavam o grande absurdo brasileiro.
Em nossa história torta de poderes podres, a educação sempre foi relegada a segundo, terceiro, décimo plano. Situação que tem piorado nos últimos anos, com políticas que preferem achatar os critérios a melhorar a qualidade, arrumando mais o discurso do que a casa, buscando estatísticas bonitas que maquiam uma realidade feia que dói. Aliás, não me lembro de outro Governo tão dedicado a maquiagens e atitudes cosméticas como o atual.
Aproveitando que hoje é o Dia do Professor, aqui vai minha homenagem essa classe tão maltratada, junto com a lembrança de que, neste exato momento, cresce a pressão inflacionária, crescem os escândalos de corrupção, crescem os salários de cargos políticos, cresce a impunidade, crescem os índices de violência, cresce a manipulação do povo... e a educação, ó!

domingo, 6 de outubro de 2013

Artigo de Calcanhotto no Globo deste domingo lembra o Hino Nacional cantado por Vanusa.


Compositora e cantora de mão cheia. Admiro e respeito de montão o trabalho de Adriana Calcanhotto,  a poesia de suas letras, a iniciativa bacana de criar uma persona dedicada ao público infantil... grande artista.
Por isso, estranhei seu artigo "Jornal de Domingo", publicado hoje no Globo. Espaço nobre, destacadíssimo no Segundo Caderno, e preenchido com um texto que, se estivéssemos nos anos de chumbo, equivaleria às receitas culinárias publicadas em protesto contra a censura.
Travessura praticada durante um surto Partimpim? Texto elaborado sob efeito de confusão mental? Delírio experimental com objetivo de gerar especulações como a que faço agora? Tudo pode ser. E, independente da hipótese verdadeira, não afeta o belo currículo de trabalhos com que Adriana nos brinda há tanto tempo. Fez lembrar o episódio de Vanusa embaralhando o Hino Nacional durante uma cerimônia, que virou piada na internet, mas não comprometeu seu histórico de serviços prestados à música brasileira.
Esquisito, constrangedor, evidentemente vazio... mas, acontece às melhores famílias.
Como diz a chamada para o artigo no alto da primeira página do Caderno, "Todo mundo espera alguma coisa do jornal de domingo". Só que por essa ninguém esperava.
Fazer o quê? Todo mundo tem o direito de derrapar de vez em quando.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ESPERANDO OS BÁRBAROS ÀS VÉSPERAS DO 7 DE SETEMBRO.


A semana que desemboca nas comemorações da Independência no Rio está repleta de cultura. Depois de dois dias circulando na Bienal do Livro, que transborda de gente, estive na Art Rio, também muito frequentada. No lado literário, participando de mesa com um espanhol de pseudônimo inglês (Allan Percy). No lado das artes plásticas, surpreendido por uma argentina, cujo trabalho poderia ter sido a capa de meu livro "E. O Atirador de Ideias". Facas cravadas na parede, projetando de um lado, sombras; de outro, olhares: tudo a ver com meu protagonista, fascinado por atiradores de facas e buscando um ângulo criativo que o projete social e intelectualmente.
Graciela Sacco é a artista, ousada, provocante, suficientemente forte pra ser apresentada em projeto solo pela Galeria Rolf Art. Sua instalação "Esperando os bárbaros"vai além da imagem que mostro aqui. Há outras execuções, onde as facas são postas de lado, mas os olhares continuam, sempre atentos, numa expectativa assustada que nos conta muitas histórias. É um trabalho visual que, mexendo com a imaginação, nos leva a múltiplas narrativas. É, antes de tudo, um retrato do que vivemos hoje, em constante estado de alerta, observando pelas frestas uma onda crescente de manifestações contraditórias, que, enquanto discursam sobre avanços político-sociais, regridem nos fundamentos do comportamento civilizado.
Os olhos de Graciela Sacco são, ao mesmo tempo, os dos mascarados que nos tiram a paz, e os do cidadão comum, encurralado por mil preocupações, mas esperançoso de enxergar em algum ponto um pedacinho que seja de esperança.

sábado, 31 de agosto de 2013

DESMASCARAR É PRECISO.


O voto secreto é a máscara que encoraja a manutenção do mandato de um deputado criminoso.
O lenço na cara é a máscara que esconde o assaltante de diligências no velho oeste.
A camisa na cara é a máscara usada por traficantes, terroristas e black blocs.

Entre todos os que praticam o erro, só uma coisa é sempre certa: a máscara.

(foto buscada no Google, autoria desconhecida)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

HANNAH ARENDT, HITLER E OS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO.


A história mostra a emoção como incapacitante da razão, expõe a inflexibilidade dos prejulgamentos, a quase impossível compreensão de argumentos quando se está acometido de cegueira e surdez, por idolatria, paixão, ódio ou fanatismos em geral.
Filme fundamental em nossos tempos intolerantes. Provoca reflexão sobre forma, conteúdo e contexto, e sobre a necessidade de extrema cautela na exposição de raciocínios não maniqueístas diante de plateias predispostas a refutar qualquer coisa que esbarre em suas verdades absolutas.
Assisti ao filme na última sexta-feira, depois de testemunhar uma longa série de discussões descalibradas sobre política, religião e manifestações de rua.
Chega o sábado e leio no Globo matéria sobre as fotos de Hitler, feitas por Heinrich Hoffman, enquanto o futuro ditador ensaiava os discursos e gestos com que eliminaria o senso crítico de multidões e arrancaria com tudo em sua trajetória insana. Por mais propícias que fôssem as condições históricas, sociais e econômicas para a ascensão de um "salvador da pátria", não me canso de ficar impressionado com a patetice da figura, a teatralidade canastrona, o ridículo absoluto que a maioria do povo alemão conseguiu desenxergar. Tudo tão ensaiado, repleto de clichês e truques básicos de enquadramento, tudo obviamente desumano, imoral, inaceitável, caminhando para a tragédia.
A história está cheia de acidentes de comunicação. Melhor relembrá-los e preveni-los agora do que lamentá-los depois. Num momento em que os diálogos se transformam em colisão de monólogos, e em que os ignorantes on e off-line se acham no direito de falar mais alto que todo mundo, vale redobrar os filtros do que se ouve e prestar especial atenção naqueles que, mesmo timidamente, se atrevem a discordar.
(fotos extraídas da internet. Autores desconhecidos)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

DIVAGAR, E SEMPRE.

O que mais escrevo neste blog são divagações. Escrevo sobre o ato de escrever, sem plano de voo. Simplesmente teclo sobre o que me vem à cabeça, o mais próximo possível do que seria um bate-papo informal. Acredito que as melhores ideias nascem desse estado mental falsamente descompromissado em que nossas preocupações e encomendas criativas se escondem atrás de bobagens, risos e pés descalços, de preferência apoiados na mesa. Outro dia, conversando com meu irmão mais novo, pensamos no sucesso que faria uma linha de papel higiênico estampada com a foto de políticos. Imagine limpar a bunda com a cara do....... e da....... (complete a lacuna com seu corrupto / incompetente preferido), e ter o prazer de ver aquela figura envolvida pela matéria que melhor a define. Higiene e protesto num único ato de redenção e catarse, apenas um exemplo das muitas loucuras que podem surgir enquanto divagamos. Ideias às vezes implementáveis, às vezes só recreativas. Mas como é gostoso tê-las e poder compartilhá-las. 
Divagar é necessário e urgente num mundo em que mais se reclama do que se pensa em soluções. E por falar em reclamação, desculpe se a política tem tomado mais espaço em meus textos do que eu gostaria. Não é assunto que me agrade, mas... você sabe... tá fedendo além da conta.

(A foto desta postagem foi buscada no Google. Seu autor não é mencionado)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

FRANCISCANDO.


O sorriso diz tudo. Mais do que os discursos. Fala sobre o que acredita, por isso convence, mesmo quando sua opinião não coincide com a nossa.
As atitudes, aliadas ao sorriso, são de uma eloquência arrebatadora. Não teme o contato com o povo, não teme o improviso, nem a quebra de protocolos. Escolhe sempre o mais simples.
Usa expressões como "botar mais água no feijão", faz alusões a cafezinho, cachaça, elementos do dia-a-dia. Critica a cultura do descartável, acolhe os que lutam contra a dependência das drogas, combate a corrupção (começando pelo Vaticano), incomoda gente perigosa. Desfila em carro aberto, enlouquece os seguranças.
Não tenta ser perfeito, nem infalível, nem super-poderoso. Insiste pra que rezemos por ele, pedindo humildemente pra ser ajudado.
Na comunidade de Varginha, parece mais à vontade do que nos palácios. Quando fala com os jovens e sobre seu papel construtor do futuro, parece rejuvenescer, reenergizar-se.
A escolha do nome Francisco podia ser um detalhe. Graças a Deus, não é.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O DOCE SABOR DO FRACASSO.


Quando algo parece que vai funcionar, alguém vem e desarruma. Brasileiro adora perder uma boa oportunidade, prefere se sentir injustiçado a carregar nas costas a pesada responsabilidade de dar certo. "Certo", palavra horrorosa pra quem se acostumou a ser torto. Certo = direito, sacou? Coisa de direita reacionária entreguista etc e tal. Outro assunto em que somos fissurados são os rótulos, não importa o quanto estejam fora do prazo de validade.
Escritor que vende muito deve ser apedrejado pela crítica (e também por seus pares). Filme de grande bilheteria?, só pode ser ruim. Empresário bem-sucedido?, que ofensa às tradições nacionais! Televisão considerada uma das melhores do planeta e com muita audiência? pau nela! Se deu certo, só pode estar errado. As grandes empresas, a grande mídia, os grandes conglomerados... tudo que é grande conspira contra quem idolatra a pequenez.
Só no Brasil, um partido com mais de 10 anos no poder segue chorando pitangas contra... o quê mesmo? E afirma orgulhosamente que a recente onda de protestos se deve ao sucesso de sua gestão.
Só no Brasil, esperamos que os estádios sejam construídos, pra na hora H, sacanear os eventos que tanto lutamos pra hospedar, jogando fora a chance de recuperar o que foi investido e faturar das mais variadas formas. Só no Brasil, crucificamos quem tenta alavancar a economia e promovemos constantes paralisações com o pretexto de querer avançar. Só no Brasil, até a visita de um Papa super-simpático, em evento mundial de jovens religiosos, se transforma em calvário.
O mundo nos admira por nossa hospitalidade e descontração? Rá! Positivo demais pra ser mantido. O mundo quer investir aqui fortunas que vão gerar empregos e melhor qualidade de vida? Rá-rá! Vamos dar aos investidores todos os motivos pra se escafederem de nossa terra. O mundo está olhando pra nós? Beleza! Vamos mostrar a eles com quem estão se metendo e destruir de vez tudo o que levamos tanto tempo pra construir. Rá-rá-rá! Olha o que eu fiz com o nosso brinquedinho.
Destino turístico paradisíaco, coisa nenhuma. Lider dos BRICS, nananinanão! Legal mesmo é ser liderado pela Venezuela, enrolado pela Argentina, humilhado pela Bolívia. Queremos ser vistos como um lugar infernal onde ninguém consegue ter paz, planejar nada, se sentir seguro pra fazer nada. Talvez seja isso, "fazer nada", nosso ideal macunaímico: um eterno feriadão, onde tenhamos todo o tempo do mundo pra lamentar o presente, inventar teorias conspiratórias, colocar a culpa nos outros e detonar o futuro.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

DESMANIFESTANDO A COISA TODA.


Escrevo ao som de helicópteros, sirenes e buzinas. Daqui a pouco, vêm as bombas, o gás lacrimogênio, a garotada correndo. Aí seguem-se os protestos sobre o comportamento da polícia, sobre a cobertura insuficiente da mídia, protestos sobre protestos e mais protestos. Normal. O roteiro é o de sempre.
Quando começou, teve impacto. Depois, como crianças que querem ser aplaudidas por executarem repetidas vezes sua gloriosa cambalhota, tudo que os insistentes protestantes vêm conseguindo é banalizar. "Muito cool participar dessas baladas manifestativas, dá pra pegar umas minas, zoar geral, fazer bonito nas redes sociais e, forçando um pouco a barra, até aparecer na tv. Caraca, capricha no cartaz, brou! Se puder levar uma máscara antigás pendurada no pescoço então, tua chance de brilhar multiplica um monte". Menos, galera, menos!
Diante do muitos excessos cometidos no Brasil de hoje, permito-me sussurrar um princípio básico de comunicação, muito bem colocado pelo expert em storytelling, Robert McKee: "Se toda cena grita para ser ouvida, ficamos surdos". É isso.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A QUEM INTERESSA BATER NA MÍDIA?

Pra começar, blog é mídia, facebook, twitter, cartaz de passeata, estampa de camiseta, e por aí vai, tudo é mídia. Imagino, então, que os que atacam indiscriminadamente a mídia se refiram à chamada "mídia de massa", ou simplesmente "grande". São as pessoas que, em considerável número, compartilham o que lhes chega às mãos sem checar a veracidade de fontes e fotos, os que não têm tempo de se aprofundar e/ou, de tão revoltados com tudo, primeiro atiram, e depois perguntam. Talvez nem chegando a perguntar, na pressa em gerar um novo post e conquistar preciosos likes.


A mídia (grande ou pequena) tem falhas, sim, como tudo o que é humano. Às vezes se precipita, às vezes edita mal, às vezes coloca um viés pessoal na notícia. Quando escrevo este texto, por exemplo, manifesto minha visão a partir de convicções e experiências pessoais. Por que deveria esperar que jornalistas fôssem imunes à subjetividade? Ou por que deveria acreditar que o que se espalha na internet é verdadeiro? Há sempre uma dose de opinião em tudo o que se expressa. Nada é 100% objetivo desde que o mundo existe. Mas prefiro mil vezes aplicar minha análise crítica ao que dizem jornalistas bem preparados e com acesso a fontes bem informadas, do que ao caldeirão raso e inconsequente que ferve na web.


A internet, sob a falsa capa de ingenuidade em que se abriga, está corrompida por opiniões compradas, depoimentos encomendados e uma infinidade de aberrações que circulam, como gangues de delinquentes, à procura de inocentes úteis. Ali se pratica um "jornalismo"sem princípios, onde cada um diz o que quer sobre o que for, sem qualquer responsabilidade.
Quando vejo a mídia, a imprensa, o jornalismo em geral sendo apedrejados, imagino quem os considera inimigos. Geralmente são os ditadores, os corruptos, os que não querem ter suas fraudes, fragilidades e incoerências expostas ao público. E penso que, sem a chamada "GRANDE MÍDIA", estaríamos totalmente vulneráveis às manobras do poder, sem saber de maracutaias, sem ter noção do quanto somos roubados, sem sequer a percepção do quanto estaríamos privados de nossa liberdade e cidadania.
O sonho dos desonestos é controlar a mídia, pra seguirem seu caminho de bandidagem sem obstáculos. Portanto, antes de jogar pedra na mídia, é bom pensar em quem está torcendo pra ver o circo pegar fogo. Assim como é bom lembrar que, graças à tecnologia, todos nos tornamos mídia, e em algum lugar, alguém mal-intencionado, também tenta nos controlar.
Pra encerrar, o quadrinho acima, com a foto de Richard Nixon, foi buscado no Google. Não tenho certeza de que a frase "o inimigo é a imprensa" foi dita por ele. Mas não tenho nenhuma dúvida de que, no auge de Watergate, isso lhe passou pela cabeça.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

PENSO, LOGO, EGITO.

Nada de medo, mas consciência. A situação política brasileira não é a mesma do Egito, como insinuam os oportunistas de um lado. Mas também não pode se enredar em manobras eleitoreiras, como pretendem os oportunistas de outros lados. Transformar a massa indignada em massa de manobra seria o pior desfecho possível para nosso bendito despertar cívico.
Direita e esquerda se tornaram palavras vazias, que variam de significado segundo a conveniência do usuário, por isso vou deixá-las de lado. Golpe, este sim, é o grito de alerta (compartilhado pelos que se dizem esquerdistas e direitistas). São muitos. Cada um tem seu golpe na cabeça: o velho golpe de infiltrar baderneiros pra deixar os manifestantes mal na foto, o golpe bolivariano de propor um plebiscito pra alegar que o executivo fez sua parte e poder se unir aos que apedrejam o legislativo, o golpe de estimular demandas pontuais multifacetadas que possam gerar inquietações, inseguranças e greves sucessivas... o golpe de desqualificar o grito das ruas, provocar o caos, inviabilizar o país. Vários golpes se engatilham, todos com as piores intenções, e cabe a nós identificá-los, desmoralizá-los e rejeitá-los, sob pena de jogar fora um momento histórico que dificilmente se repetirá.
Não, decididamente não somos o Egito. Mas o que não falta no Brasil é múmia. Maldições em cadeia (boa palavra essa, hein!), anos a fio a nos assombrar: Renan Calheiros, Henrique Alves, José Sarney, Paulo Maluf, José Dirceu, Fernando Collor... a lista é grande. Obras faraônicas, claro, pipocam por todos os lados, de estádios padrão Fifa a hidrelétricas padrão "ame-o ou deixe-o / anos 70", com custos invariavelmente acima do orçado. Esfinges? Quando olho pra esses seres meio gente-meio bicho, não sei porque me lembro de Dilma e Lula. Deve ser por oscilarem muito de um lado pro outro, tornando-se indefiníveis. Ou talvez por serem, no fundo, a mesma pessoa, obcecada pela eternização no poder. Por fim, o famoso "decifra-me ou te devoro" cai muito bem aqui, entre o povo e os soberanos da vez. Quem não decifrar a situação com inteligência, tende a ser devorado.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

COPA É BOM, OLIMPÍADA É BOM.


Antes de colocar a culpa nos eventos, melhor colocar a cabeça no lugar. Ter Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil é maravilhoso. Atrai turistas, investimentos, obras, empregos, novas perspectivas para todos. Também atrai nosso olhar para as mazelas nacionais, atrai nosso espírito cívico, nossa revolta com a incompetência e a desonestidade dos que nos governam.
Copa do Mundo e Olimpíadas mexem com tudo. Se não fôssem elas, não enxergaríamos com tanta nitidez os contrastes entre estádios e serviços públicos, não teríamos a certeza de que dinheiro pra fazer grandes obras (quando há vontade política) existe, não teríamos o impulso necessário pra vomitar nossa indignação contra os que nos pilham com o inchaço da máquina pública, nos embromam com maquiagens contábeis e discursos requentados, nos chantageiam com migalhas oferecidas em troca de votos.
Quando alguém maldiz Copa e Olimpíadas, fico zangado. Benditos sejam esses eventos. Que aconteçam seguros, bonitos e festivos, como o mundo espera de tudo o que se faz no Brasil. É tolice não apoiá-los, boicotá-los, desperdiçar o sacrifício do plantio detonando tudo na hora da colheita. Assim como é estúpido não aproveitar o ensejo pra fazer uma faxina profunda na classe política, e obrigar os que há tantos anos nos ignoram a sair da zona de conforto, arregaçar as mangas, e nos dar a qualidade de vida que merecemos, minimanente compatível com a absurda carga de impostos que suportamos.
A bola está na marca do pênalti. Ano que vem tem Copa e eleição. Momento imperdível pra marcarmos um golaço na recepção dos que vêm nos visitar, dar um chute na bunda dos politiqueiros-mensaleiros-bandalheiros de plantão, e correr pro abraço com o alto astral que nos diferencia, cantando o Hino Nacional como nunca antes na história deste país.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

SER PAI ESTÁ NOS DETALHES.


Quando Fred marcou o primeiro gol brasileiro contra a Espanha e as celebrações se concentravam na linha de frente, David Luiz abraçava Júlio César, como se o gol tivesse nascido de uma tabelinha entre eles. Sentimento de família, coisa que só se consegue quando um pai-Felipão está no comando.
Quando a seleção canarinho festeja a conquista do campeonato, junto com os craques, algumas crianças vibram. Uma delas, vestindo camisa 9, ergue os braços como se tivesse jogado. Está bem na frente de seu pai, Júlio César.
Nos dois romances que escrevi, é evidente a presença do pai, pro bem e pro mal. Conselheiro e devotado no caso de José Espínola, sombrio e culpado no caso de Douglas. Não por acaso.
Paternidade é um assunto prioritário em minha vida, inspirado pelos filhos e pelo pai maravilhoso que Deus me deu.
Certamente é isso que me faz focar em Júlio César, em vez de Neymar e Fred. Essa identificação com quem segura os ataques do adversário, protege, dá tranquilidade pra que o grupo avance.
Quando eu era pequeno, meu pai jogava futebol comigo. Mais tarde, eu joguei com minha filha e meu filho. Hoje, ir ao estádio com aquele garoto, que virou um rapagão, continua a me emocionar. Cantar o hino nacional até o fim, enchendo o peito de orgulho junto com ele, então, nem se fala.
Em meio a tantos temas graves debatidos nas ruas, parece pieguice boba. Pra mim, é um grande detalhe.