terça-feira, 13 de novembro de 2012

A IRONIA FINA DO MR. LARANJA MECÂNICA


Anthony Burgess brinca com a genialidade. Atribui o sucesso do seu mais famoso livro, por exemplo,  à adaptação cinematográfica dirigida por Stanley Kubrick, a quem não poupa elogios. Mistura de humildade com pés no chão, em tempos de maior excitação com telas do que com páginas.
Num ensaio de 1973 (e atualíssimo) recentemente publicado pelo Estadão, seu parágrafo inicial é um dos melhores exemplos de ironia auto-depreciativa que conheço. Copiei de lá pra destacar aqui:

"Sou, por ofício, um romancista. Acredito tratar-se de um ofício inofensivo, ainda que não venha a ser considerado respeitável por alguns. Romancistas colocam palavras vulgares na boca de seus personagens e os descrevem fornicando e fazendo necessidades. Além disso, não é um ofício útil, como o de um carpinteiro ou de um confeiteiro. O romancista faz o tempo passar para você entre uma ação útil e outra; ajuda a preencher os buracos que surgem na árdua trama da existência. É um mero recreador, um tipo de palhaço. Ele faz mímica e gestos grotescos; é patético ou cômico e, às vezes, os dois; ele faz malabarismo com palavras, como se estas fossem bolas coloridas."



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