sábado, 20 de outubro de 2012
ESCREVENDO NO ESCURO.
No início, breu total. Vasculham-se gavetas da memória, enquanto os olhos aprendem a distinguir silhuetas na escuridão. Requer disciplina e paciência. De repente, delineia-se uma ideia. Melhor escrever logo antes que se dissipe. Poucas palavras, telegráficas, quase cifradas, pra futuro desenvolvimento. O processo ideia-anotação se repete por algum tempo, até que dias, semanas, meses ou mesmo anos depois, repassamos o que foi registrado. Como numa corrida de espermatozóides, a ideia que merece vir à luz salta à frente, trazendo na cauda um fio piscapiscante. Desse fio é tecido o enredo, ou não, dependendo de como o pisca-pisca evolui do estágio inicial de soluço para o da consistência narrativa. Se não evoluir, volta-se à pescaria de ideias, acontece, nada de pânico. Há que se manter a serenidade, mesmo quando tateamos nas trevas. No fim das contas, tudo se resume à iluminação gerada pela própria ideia e ampliada pelo exercício de desenvolvê-la. Daí pra frente, é só uma questão de gramática.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
NA IMINÊNCIA DE.
A Bienal de Arte de São Paulo fala da "Iminência das Poéticas". Gostei mais da conceituação do que dos trabalhos expostos, talvez uma síndrome de nossos dias onde a teoria parece satisfazer mais do que a prática. Explica-se a intenção de um filme, a forma inovadora de sua captação, e pronto, qualquer bobagem na tela serve. Explica-se a estratégia de uma ação de marketing, de preferência
utilizando recursos tecnológicos sofisticados, e isso basta para que ela
seja dispensada de fazer sentido.
O texto de apresentação da Bienal é notável. Diz que "a iminência é o signo de nossos dias: um mundo cada vez mais complexo, mais fraturado em sua aparente globalidade; o maior conjunto de memória artificial da história e a maior epidemia de memória natural; a maior reunião de imagens e provavelmente a maior soma de artistas". Muito bem dito e bastante assustador com sua sequência de maior isso, maior aquilo - a quantidade se debruçando ameaçadoramente sobre a qualidade. As iminências chegam em bandos e só tendem a aumentar, melhor aprender a lidar com elas. Vivemos na beirinha de derrapar na curva, de perder o emprego, de mandar o emprego embora, de chutar o balde, de votar no candidato errado, de sofrer um ataque terrorista, de explodir, de perder o rumo, de descobrir uma doença grave, de escrever uma bobagem online que vá nos perseguir pelo resto da vida, de fazer algo que os outros considerem genial, de sermos flagrados por câmeras de segurança em situações comprometedoras, de vencer, de fracassar, de brilhar, de não sair do lugar. Pro bem ou pro mal, tanto faz, as iminências não têm critério. Heróis forjados pelas circunstâncias, resta-nos a cara e a coragem. A cara, muitas vezes de pau, sempre dada a tapa, símbolo máximo da coragem, esta sim, indispensável.
Viver sob o signo da iminência requer uma coragem porreta, e não há como negar o quanto de poesia emana do simples risco de estarmos vivos.
O texto de apresentação da Bienal é notável. Diz que "a iminência é o signo de nossos dias: um mundo cada vez mais complexo, mais fraturado em sua aparente globalidade; o maior conjunto de memória artificial da história e a maior epidemia de memória natural; a maior reunião de imagens e provavelmente a maior soma de artistas". Muito bem dito e bastante assustador com sua sequência de maior isso, maior aquilo - a quantidade se debruçando ameaçadoramente sobre a qualidade. As iminências chegam em bandos e só tendem a aumentar, melhor aprender a lidar com elas. Vivemos na beirinha de derrapar na curva, de perder o emprego, de mandar o emprego embora, de chutar o balde, de votar no candidato errado, de sofrer um ataque terrorista, de explodir, de perder o rumo, de descobrir uma doença grave, de escrever uma bobagem online que vá nos perseguir pelo resto da vida, de fazer algo que os outros considerem genial, de sermos flagrados por câmeras de segurança em situações comprometedoras, de vencer, de fracassar, de brilhar, de não sair do lugar. Pro bem ou pro mal, tanto faz, as iminências não têm critério. Heróis forjados pelas circunstâncias, resta-nos a cara e a coragem. A cara, muitas vezes de pau, sempre dada a tapa, símbolo máximo da coragem, esta sim, indispensável.
Viver sob o signo da iminência requer uma coragem porreta, e não há como negar o quanto de poesia emana do simples risco de estarmos vivos.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
BOOK-TRAILLER DE SOBREVOANDO BABEL
Está no link abaixo. Papo curtinho, picotado, um tanto quanto babélico, sobre a ideia do meu sobrevoo.
http://www.youtube.com/watch?v=y2PK-lfim6s&feature=youtu.be
http://www.youtube.com/watch?v=y2PK-lfim6s&feature=youtu.be
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
MEUS PERSONAGENS PAULISTANOS
Podia partir de Nova York, Shangai, Tóquio… Mas partiu de
São Paulo.
Podiam ser parisienses, londrinos, moscovitas… Mas são
paulistanos.
Sou carioca, seria mais fácil situar meus personagens no
Rio. Só que não estou em busca de facilidades, pelo contrário, adoro desafios.
E não há qualquer irresponsabilidade em minha escolha, tenho extenso currículo
de ponte aérea, trabalhei durante muitos anos lá e cá, conheço bem o espírito
da pauliceia, e sei o quanto esse espírito está conectado com o momento Brasil Bola da Vez. Claro que há um motivo maior por trás da minha decisão: a
história. Um livro que lida com a babelização, perdão, com a globalização, tem
que partir obrigatoriamente de nossa metrópole mais destacada no cenário econômico
planetário. É pra estar ali, ombreando com os grandes centros decisores do
mundo, duelo de gigantes, não dá pra vacilar, tem que escalar nosso campeão dos
pesos pesados. Oh, yes, nós temos Babel! E não se trata exatamente de um lugar,
é um jeito de lidar com as expectativas, com os outros, com a vida. Impossível
de localizar no GPS, está por aí, sobrevoando a gente o tempo todo, vive dentro
de personagens como Douglas, Amanda, Guilherme, Ismênia, Victor, Valéria,
Júlia, Cíntia, Ingrid, Ludmila, Laurent, Paula. Babel está instalada em nossas
cabeças, é uma epidemia global.
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