sexta-feira, 7 de setembro de 2012

RIO DE JANEIRO, DOS CORPOS ESCULTURAIS.



Não vamos falar das figuras sensuais de sempre. Estão deitadas na areia, passeando pelo calçadão, desfilando sua beleza exaustivamente cantada em verso, prosa e cantadas propriamente ditas. Óbvio demais insistir em cantá-las, melhor deixar que continuem, livre e descuidadamente, provocando encantamentos pela cidade.
Vamos falar de figuras que nos visitam. De corpos que chamam a atenção pela reflexão que propõem e pela coincidência de estarem em exibição ao mesmo tempo, no mesmo Rio, agora definitivamente assumido como palco de todas as artes.
Os corpos de Antony Gormley, por exemplo, começaram ameaçando suicídio, mas, parados na beirinha dos prédios, enxergaram tanta coisa interessante que decidiram seguir vivendo. Instalaram-se no Centro Cultural Banco do Brasil onde, ora de pé, ora encurvados, ora amontoados no chão, ora pendurados no teto, nos falam de tortura, pau-de-arara, extermínio, e vida. Nos falam da maldição e da bênção de sermos corpos, vocacionados para a liberdade ao mesmo tempo que enjaulados em formas limitadoras.
Os corpos de Alberto Giacometti (curioso: dois escultores com as mesmas iniciais), apesar de também forjados em metal, têm discurso tão diverso quanto o ferro de um diverge do bronze do outro. Alongam-se e deformam-se como que tentando exteriorizar o que possuímos de mais interno. Lembram-nos de que, reduzidos à essência, somos quase linhas, quase sombras, quase dignos de pena em nosso destino retorcido. Em Giacometti, recheando os espaços do MAM, há os que se deslocam, os que se manifestam e os que apenas observam, como solenes massais contemplando seus domínios. Chama a atenção que, nem os corpos de Gormley, nem os de Giacometti, dêem valor especial ao rosto e, apesar disso, consigam transmitir um vasto pout-pourri de emoções. Tudo indica que delegaram a exclusividade do rosto para Awilda, de Jaume Plensa, que emergindo da enseada de Botafogo, fecha os olhos e deixa que a brisa lhe fale aos ouvidos. Expande-se em meditações, sem se importar com os carros que passam ou as pessoas que passeiam, para deixar bem claro que somos todos pensantes, imaginativos, sonhadores e gigantes, infinitamente maiores que nossos corpos.

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