quarta-feira, 28 de março de 2012

MEUS PREFERIDOS SÃO FRANCISCOS

Meu santo preferido está nas pautas mais importantes do planeta. Defensor da ecologia, desde quando esse nome nem existia. Sacudiu a Igreja de sua época, fundou uma ordem exemplar, mostrou ser capaz de revolucionar a própria vida de rico-mimado e fez com que a palavra "franciscano" significasse desapego aos bens materiais, além de batizar um estilo despojado de sandálias.

Meu compositor preferido, desde os tempos da ditadura militar, também é Francisco. Sujeito que melhor definiu a dor da saudade: "pior tormento, pior do que o esquecimento, pior do que se entrevar, dói como um barco que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais, é o revés de um parto, é arrumar o quarto do filho que já morreu, é assim como uma fisgada no membro que já perdi." Ufa! Sujeito que canta coisas tão poéticas que parece frequentar o dormitório das palavras, captando significados que só aos mais íntimos elas revelam.

Meu humorista preferido partiu há pouco. E levou com ele uma legião de personagens. Provocou um turbilhão de homenagens, descortinou inúmeros aprendizes, praticamente todos que seguem se dedicando ao humor no Brasil.
O Globo de hoje publicou um texto sério dele, falando de sua busca pelo menino que havia sido. Texto brilhante, comovente, de um artista que sabe perfeitamente de onde vem sua criatividade, que se supera e transborda em tudo o que decide fazer.

Chico de Assis, Chico Buarque, Chico Anysio. Todos ultrapassam seus rótulos.

Mais que santo, o de Assis é rebelde, atual, eternamente jovem. Mais que compositor, o Buarque é poeta (embora o negue), inquieto, escritor de mão cheia. Mais que humorista, o Anysio é autor, ator, compositor... Mais que tudo, os três são criadores e provocadores, cada um no seu quadrado. E como fizeram enormes seus quadrados, como desafiam o confinamento dos quatro lados, como os reinventam, deformam, reformam.

Meus preferidos nessas três áreas são gênios, são marcantes, são Chicos. Êta nomezinho danado!

quinta-feira, 8 de março de 2012

PARA ENTENDER AS MULHERES, ESQUEÇA OS PSICANALISTAS. CONSULTE OS POETAS.



Drummond disse:

" Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café… Há que ser mulher,
por um triz e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!”

Precisa dizer mais alguma coisa?


sábado, 3 de março de 2012

RETROFUTURISMO JÁ


Acho engraçada essa palavra, soa cabeçuda sem perder o bom-humor, tem um quê de cinismo e esnobação de antenados, embora seja razoavelmente antiga, criada por Lloyd Dunn em 1983. O fato é que, apesar de seus quase 30 anos, segue atualíssima.
Retrofuturismo é o que melhor define o caráter distópico, ambíguo e contraditório do nosso tempo. Ok, de todos os tempos, só que evidenciado pela intensidade e rapidez com que ocorre hoje, de acordo?
Incensar no presente a forma como o futuro era imaginado no passado é tornar profético o que a princípio só pretendia ser imaginativo, é colocar a imaginação no mais alto dos pedestais, de onde também nós adquirimos o direito de observar o amanhã, brincar de futuristas e, quem sabe, acertar alguns chutes sobre o que vem por aí.
Em seu "O Zen e a Arte da Escrita", Ray Bradbury, autor do clássico "Fahrenheit 451", nos lembra que os primeiros homens e mulheres desenharam ficção científica nas paredes das cavernas, e enfatiza que sem fantasia não há realidade, sem imaginação não há vontade, sem sonhos impossíveis não há soluções possíveis. Graças a ele, passei a encarar o gênero com olhos mais simpáticos, descobri que Steam Punk, Diesel Punk e Cyber Punk são mais punks (no melhor dos sentidos) do que parecem, que o Batman de Joel Schumacher pode andar de mãos dadas com o Metropolis de Fritz Lang e flertar com os cultuadores de Star Trek e Star Wars, enquanto visitam o Brazil de Terry Gilliam.Vi mais claramente a poesia de Blade Runner, a fantasia de Back to the Future (fácil esbarrar com Júlio Verne por ali), a filosofia de Matrix. Conclui que há espaço de sobra para emoção, nos chips, nos múltiplos gadgets, nos softwares, nos pendrives, nos hard-disks, e nas telas (que, desde o primeiro quadro do primeiro pintor a emoldurar seu trabalho, sempre tiveram esse nome), telas de todos os tamanhos, para todos os gostos, cada vez mais acessíveis, e sensíveis ao toque.
Há futuro, gente! Essa é a boa notícia. Há muito tempo que há. E por mais fantástico que pareça, ele continua fazendo algum sentido.